Carta de uma mãe de dois à amiga que vai ser mãe 

​Encontrei por acaso no evernote esse texto que escrevi em 2015, fiz algumas alterações e resolvi publicar… 

O título original era “Carta de uma mãe que amamenta há anos, à amiga que acabou de parir e ainda vai amamentar”:

Seu leite não vai descer no primeiro instante, o bebê precisa mamar o colostro, que vai garantir seus primeiros anticorpos, e não se preocupe com açúcar e gorduras, bebês nascem com uma reserva para esta fase.

Seus seios irão doer! Verifique sempre a pega para não ter fissuras, se estiver sentindo dores demais, procure um profissional, dor demais não é normal.

Jogue todos os relógios fora! Seu filho não sabe o que é dia ou noite e olhar o relógio só vai te estressar. Você também não precisa saber quanto tempo ele passa mamando, ou de quanto em quanto tempo mama. O nome disso é livre demanda.

Esqueça chupetas e mamadeiras! Elas MATAM a livre demanda, porque a cada vez que seu filho suga um bico de borracha, ele deveria estar sugando seu seio, e isso em algum momento ainda irá atrapalhar sua produção de leite, além de alterar o padrão de alimentação do bebê, podendo te machucar, não conseguir extrair o leite materno e até recusar o seio. 

Seu bebê nasceu chupando dedo? Olhe bastante, é uma fofura e não atrapalha em nada como os palpiteiros vão te dizer, se você seguir em livre demanda e sem bicos artificiais, um dia vai simplesmente notar que seu rapazinho ou sua mocinha  nao chupa dedo há dias, e não chupará mais. Se quiser trocar o dedinho por alguma coisa, troque pelo seu peito, não há nada mais anatômico. E quer uma dica maravilhosa? Succção digital um excelente indicador dos níveis de stress do seu filho, se não passar você já sabe que precisa de ajuda (de um profissional, não de um plástico).

Quando seu bebê tiver por volta de 6 semanas de vida, ele irá mamar absurdamente! Acalme-se! Seu leite sustenta, sim! Ele não está secando e não existe leite fraco, mas o bebê estará passando pelo primeiro pico de crescimento, e precisa se alimentar ainda mais pra dar conta dessa fase.

Certifique-se de que a pega esteja sempre certa, alguns bebês chegam a assar os mamilos da mãe por tanto tempo que passam sugando.

Seu organismo vai entendender e produzir mais leite, mas quando o pico passar, se você não cuidar desse excesso pode acabar sentindo dores, tendo engurgitamentos, e mastites. Se notar os seios muito cheios, ordenhe o excesso antes de amamentar. Mamas ingusrgitadas atrapalham a pega, aumentam o risco de fissuras e ainda podem fazer seu bebê engasgar durante a mamada.

Nessa fase também já devem ter começado as cólicas, nem todos os bebês sofrem desse “mal”, mas elas normalmente acontecem devido ao amadurecimento do intestino.

Resista fortemente à tentação de sair cortando todos os alimentos que sua mãe, tia, vizinha e pediatra disseram que dão cólicas! Cada organismo é único, e você só vai saber o que REALMENTE causa cólicas em seu bebê se estiver comendo de tudo, e então, sim! Elimine os vilões reais (se quiser).

Por volta dos 3 meses seu bebê irá parecer um gremilim. Chorar demais, mamar demais, dormir menos (alguns bebês nessa fase ainda começam a apresentar os primeiros sinais de que os dentes estão chegando), ele vai começar a colocar as mãos na boca. Parabéns! Estamos crescendo.  Você vai pensar que é fome, sua produção de leite nessa fase irá diminuir demais. Isso porque até então seu organismo não sabia de quanto leite precisava, então produzia em EXCESSO. Agora que seus corpos já estão em plena sintonia, você irá produzir apenas o quanto ele precisa. Lembre-se: “seu peito não é um estoque, é uma fábrica de leite”, ele não precisa estar cheio, toda vez que o bebê sugar, você produzirá mais leite. Quer aumentar a produção? Coloque seu filho pra mamar, só isso! Esse é o segredo das mães que “têm sempre muito leite”. Com muito peito, sling, shantala, banhos de chuveiro e bebê no colo mamando, som do útero materno (leia sobre as teorias da exterigestação), essa fase logo passará e você finalmente ficará confiante nessa tal de amamentação.

Durante a crise dos 3 meses, Rapha começou a se mostrar  inquieto ao mamar, e as alternativas que encontrei foram: amamentar andando, mudá-lo de posição, amamenta-lo no sling, no banho, ou em ambientes mais tranquilos. Isso acontece porque nessa idade o bebê demonstra mais interesse pelo mundo ao seu redor.

As cólicas devem desaparecer, amigas minhas relatam que sumiram magicamente mesmo, as de Rapha não sumiram, as do Be, sim. Use isso de alerta, se as cólicas persistirem, consulte um gastropediatra para descartar uma possível alergia alimentar, pois esse costuma ser um sinal clássico; neste caso é importante a mãe entrar em restrição dos devidos alérgenos e continuar amamentando.

Aos 4 meses alguns pediatras costumam introduzir sucos e papinhas. FUJA! O Ministerio da Saúde recomenda que o aleitamento materno seja EXCLUSIVO até a criança completar pelo menos 6 meses. Introdução alimentar precoce atrapalha o aleitamento materno. Existem diversos motivos para esperar.

No sexto mês o bebê desenvolve várias habilidades. Ele normalmente já senta, nessa fase costumam aparecer os primeiros dentinhos, alguns começam a engatinhar. É hora de dar a primeira comidinha e o primeiro copo de água. Por favor, se já chegou até aqui sem mamadeiras, não caia desse erro agora! Se seu bebê é saudável, ele é perfeitamente capaz de usar copos. Pode ser daqueles modelos 360° sem válvula se você tiver medo do copo comum. Molha mesmo! Vaza, faz lambança. Faz parte do desenvolvimento. O mesmo serve pra comida. Fuja das sopas batidas e peneiradas, de líquidos já bastam a água e seu leite (sucos também não são recomendados pelo MS antes de completar 1 ano devido à sua baixa densidade energética, dê frutas frescas ao invés de sucos), Os legumes devem ser cozidos (preferencialmente no vapor) e no máximo amassados com o garfo, mas pesquise sobre BLW (Baby Led-Weaning) antes.

Bem, como nem tudo são flores, nessa idade inicia também uma nova crise, a “crise dos 6 meses”, e com ela, choros intensos, dificuldades pra dormir e uma nova sensação de “leite secando”, mas você já passou por isso lá no terceiro mês e agora tem consciência de que é apenas uma fase. Respire fundo e enfrente.

A qualquer momento entre os 6 e os 9 meses deve começar outra crise (Rapha emendou direto uma na outra), a ANGÚSTIA DE SEPARAÇÃO. Nessa parece que o bebê voltou a ser um RN. Fica difícil ate para ir ao banheiro. Ocorre que ele descobriu finalmente que vocês não são uma única pessoa, como ele acreditava desde que nasceu, e agora teme que você simplesmente vá embora a cada vez que se afasta. Ainda tem um agravante, pois nessa fase a maioria das mães já voltou ao trabalho, então a sensação de abandono fica pior.

Conselho: sempre que for sair, converse com seu filho, explique que precisa ir, diga aonde vai e que voltará depois. Você pode achar que não faz diferença, mas bebês entendem muito mais do que qualquer adulto imagina.

Essa angústia também pode fazer seu bebê compensar a saudade mamando, mamando muito quando estao juntos. É um pouco cansativo, mas você pode, por exemplo começar a fazer cama compartilhada e amamentar dormindo.

A propósito, você não precisa nem desmamar nem dar leite artificial só porque voltará ao trabalho, basta se organizar e criar uma boa rotina para extrair seu leite e estocar. Sair pouco leite na primeira tentativa é NORMAL. Lembre-se que a produção de leite se dá conforme o estímulo que o seio recebe. Se você ordenhar por exemplo a cada 3 horas, logo estará produzindo o suficiente para estocar, a produção aumenta a cada ordenha. 

 Pode ser que ele morda seu peito quando chegarem os dentes. Você pode com amor, porém séria, interromper a mamada e dizer que morder dói e bebê que morde perde o mamá. Em algum tempo eles entendem. 

Pode ser que ele faça greves de peito por volta dos 8…12…15 meses. Não é desmame! São os dentes que incomodam demais com a pressão que acontece dentro da boca durante a mamada. Ordenhar e oferecer seu leite no copo pode ajudar, mas continue oferecendo o peito. Uma hora a greve acaba. Aqui a maior durou uma semana. 

Evite a palavra “não” quando for educar. Troque o “não pode”  por algo que possa. O “não” demora a ter sentido, então o bebê acaba fazendo exatamente aquilo que você queria evitar. Dizer “vem pra cá” é mais eficaz que “não vai lá”. 

Faça registros fotográficos, filme tudo o que puder. A gente fica tão envolvida na rotina cansativa que não percebe o tempo passar e um dia se dá conta que o bebê virou criança, dizendo “Manhê”, perguntando “por que”, e dormindo sem você. 

Texto escrito por mim, Raiane Cruz em 2015, quando era mãe só do Rapha (4a), editado hoje, 15/10/2017, que sou mãe dele e do Be (11m)

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